quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Let´s end this...













(c) Paulo Diegues

Do que assimilei, ficou-me o peso e o vazio;
ficou o cansaço mas não o preenchimento.
A essência não pode ser acumulada,
deve ser manifestada,
Mas eu não tenho energia para o fazer a todos os momentos,
embora queira.
Quanto mais longínquo o horizonte, mais eu olho para ele.
Mais desfoco o chão.
Nunca paro de me ouvir.
Às vezes gostava de me diluir ou apagar o botão da minha consciência,
e viver apenas.

Quero mudar a minha pele.
Quero chegar à fase seguinte.
O amanhã está a muitas respirações de distância.
Talvez amanhã exista uma respiração que falhe,
ou talvez não exista ar para todos.

Uma pergunta pode destruir muita coisa.
Uma pergunta destrói para construir por cima.
Quem pergunta fica à espera de ouvir.
Quem pergunta está sozinho e quer ouvir.
Eu quero saber mas não quero saber se vai custar.
Quero renascer mas não quero morrer por isso,
e posso morrer disso.

O homem passa de carne a pó.
O insecto passa de larva a asa.
Se eu sair do meu casulo as minhas asas podem falhar;
podem não estar preparadas.
Custa muito deixar os hábitos mas não quero viver repetições constantemente.
Cada passo nestes círculos é um badalar ensurdecedor,
aumentando de volume progressivamente,
mas não sei quando me vou desligar.
Mas não quero viver morto.
Não quero vender-me como escravo para obter segurança.
Será que eu tenho coragem de ver dentro de mim tudo o que tenho de ver?

Na língua dos insectos não há a palavra Eu.
Homens há que querem ser insectos porque os insectos não precisam de felicidade.
Não desejam o impossível.
Para eles é natural a transformação.
Nós podemos não ser naturais e sobrevivemos na mesma.

Os problemas do Homem não têm importância nenhuma
e os insectos são muitos.
São muita vida junta.
Estão sempre vivos;
mesmo quando o Homem os mata ou se mata.
Incansáveis.
Comem os problemas do homem.
Alimentam as flores.
Fazem crescer as árvores.

Continuo à procura e continuo a não perceber a maior parte das coisas.
Vou deixar isto ser o que é.
Vou deixar isto ser o que não se sabe.
Mas aqui é bom.
Aqui estou bem.
Ficar por uns tempos.
Quando sair, vai ser diferente.

Há coisas que dão muito trabalho.
Exigem esforço.
Só aprendemos com as coisas difíceis.
Partilhar é muito difícil.
Dar é fácil.
Receber é difícil.
É preciso ter espaço de sobra.
Receber é ser também o outro.
É deixar o outro entrar dentro de nós.

Vou transformar-me noutro que não sei quem é.
Mas sei que sou eu.

Paulo Diegues

1 comentário:

rrr disse...

Muito bonito Paulinho!!

beijinho**